JARDIM ABANDONADO

Na quietude de uma noite distante
Entre a folhagem negra das oliveiras
Um homem, entre outros, mas só,
Medita numa espera dolorosa.
Aguarda, envolto em abandono,
Despido do carinho humano,
Contorcido de tristeza,
Tristeza mortal...

Bebendo lágrimas, ainda,
Determinado orou
Num desabafo final,
Profundamente sentido,
Com o rosto inclinado, caído,
Prostrado entre as mãos e o chão de terra,
“se possível…”
Ai se fosse possível pôr um fim…

Mas aquele homem sabia que não.
Ele próprio, se aprontou
Para um tormento extremo.
Mas o peso do seu coração
Explodiu mais uma vez o clamor…
“Oh se for possível...Pai!”
E outra vez “passa de mim este cálice!”

Ainda assim não hesitou…
Ele pegou no meu pecado,
Ele pegou no teu pecado,
Colocou-o aos seus ombros
E esperou o momento da condenação…

Na hora em que chegou o seu amigo
O amigo que o traíu…
Levantou-se e, com ele, os dormentes…
Estes, amedrontados fugiram
E continuava aquele homem só.

Tanto que lhes havia ensinado!
Tanto amor por eles revelado
Tantas horas de partilha…
Foi por fim abandonado...

Então ele foi… calado…
Como um cordeiro humilde e doce
Indefeso, pronto para sofrer…
Culpado por mim...
Condenado por ti…
Por todos… um só homem
Que era Perfeito
Puro e divino!

Ele foi decidido,
Confiante e esperançoso
Que toda aquela dor, solidão
E sofrimento ardente
Valiam a pena…
Iria ver-me agora rendida aos seus pés..
Sabia que tu, um dia, o amarias
Por ter dado sua vida por ti,
Por todos nós...
Sabia que aqueles homens
Que tinham adormecido
Dentro de três dias,
O iriam abraçar com alegria
Porque Ele ressurgiria!

Está vivo por mim e para ti!
Confiante que hoje, aqui,
Não o abandonarás…


Sónia Bettencourt